Já se perguntou como funciona a adoção quando os adotantes são duas mães ou dois pais? Este artigo reúne tudo o que você precisa saber—sem juridiquês e com exemplos práticos.
Nesse post…
1. Por que falar em adoção por casais homoafetivos?
O conceito de família mudou muito nas últimas décadas. Hoje, a lei brasileira reconhece que afeto e responsabilidade definem um lar, não o formato tradicional de pai + mãe. Mesmo assim, quem vive uma relação homoafetiva ainda encontra dúvidas (e às vezes preconceito) quando decide adotar.
Objetivo deste texto: explicar, passo a passo, como o processo funciona, quais direitos já estão assegurados e que desafios ainda persistem. Assim você pode tomar decisões informadas e evitar mitos que atrasam sonhos.
2. Panorama legal em linguagem simples
2.1 O que diz a Constituição e o STF
Desde 2011, o Supremo Tribunal Federal equipara a união estável homoafetiva a qualquer outra entidade familiar. Em outras palavras: dois homens ou duas mulheres formam família perante a lei, com os mesmos direitos e deveres de casais heteroafetivos.
2.2 Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
O ECA (Lei 8 069/1990) regula a adoção no Brasil. Ele não faz distinção de gênero ou orientação sexual. Os requisitos principais são:
- ter pelo menos 18 anos;
- possuir 16 anos de diferença entre adotante e adotando;
- apresentar saúde física e mental adequadas;
- comprovar renda suficiente para garantir o bem‑estar da criança.
2.3 Resolução CNJ 532/2023
Para evitar interpretações diferentes entre varas da infância, o Conselho Nacional de Justiça determinou que nenhuma pergunta sobre “papel de pai ou mãe” pode impedir a habilitação de casais homoafetivos. Isso reforça a igualdade jurídica.
3. Etapas do processo de adoção
Etapa | O que acontece | Duração média |
1. Habilitação | Entrega de documentos (RG, CPF, comprovante de renda, certidões negativas), entrevistas psicossociais e curso preparatório | 3 a 6 meses |
2. Inscrição no SNA | Parecer favorável do juiz e do MP leva o casal para a fila de pretendentes | Imediato após habilitação |
3. Busca Ativa | Sistema cruza perfis; criança apta é apresentada | Variável |
4. Estágio de Convivência | Criança convive com o casal sob acompanhamento técnico | 30 a 180 dias |
5. Sentença de Adoção | Juiz confirma vínculo; novo registro civil é emitido | Até 60 dias |
Exemplo real: Ana e Luíza concluíram a habilitação em quatro meses porque já tinham toda a documentação e fizeram o curso preparatório on‑line. O perfil delas era aberto a crianças até 10 anos. Seis meses depois, receberam o primeiro chamado.
3.1 Dicas para agilizar a habilitação
- Organize documentos em pastas digitais e físicas.
- Mantenha certidões negativas atualizadas (estadual e federal).
- Participe do curso com atenção; perguntas sobre rotina e rede de apoio influenciam o parecer psicossocial.
4. Direitos garantidos durante e após a adoção
4.1 Licença e estabilidade no emprego
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) assegura licença-maternidade (ou paternidade) a um dos adotantes, proporcional à idade da criança. O outro adotante faz jus à licença-paternidade. Enquanto durar a licença, existe estabilidade: o empregado não pode ser demitido sem justa causa.
4.2 Registro civil sem discriminação
A certidão de nascimento sai com os dois nomes, sem qualquer menção de que a filiação é adotiva. Isso evita constrangimentos em escolas e planos de saúde.
4.3 Benefícios fiscais e previdenciários
- Salário‑família no INSS;
- dedução de dependente no Imposto de Renda;
- inclusão imediata em plano de saúde.
5. Desafios que ainda aparecem
5.1 Preconceito velado
Embora proibido, algumas entrevistas perguntam “quem será o pai e quem será a mãe”. Se isso acontecer, o casal pode registrar a ocorrência e solicitar nova avaliação.
5.2 Falta de preparo de profissionais
Cursos preparatórios raramente discutem parentalidade LGBTI+. Resultado: poucas orientações específicas sobre bullying, representatividade e criação.
5.3 Questões escolares
Algumas escolas ainda enviam formulários com campos “nome da mãe” e “nome do pai”. A solução imediata costuma ser conversar com a direção e explicar o respaldo legal.
Pergunta retórica: Vale a pena insistir e educar ou mudar de escola? Depende do contexto, mas conscientizar é parte do avanço social.
Jurisprudência que apoia a adoção homoafetiva
Tribunal | Processo | Resultado | Ano |
STF | STF RE 878 694 (Tema 529) | União homoafetiva reconhecida como entidade familiar | 2011 |
STJ | STJ | Adoção bilateral autorizada a companheiras já habilitadas | 2010 |
TJ-DF | TJ-DF Apelação Cível 070****-16 | Direito de amamentação compartilhada confirmado em casal feminino | 2024 |
Esses precedentes mostram que tribunais de todos os níveis confirmam a legalidade da adoção por casais homoafetivos.
7. Perguntas frequentes
7.1 Solteiros LGBTI+ podem adotar?
Sim. O processo é o mesmo que para solteiros heteroafetivos.
7.2 É necessário ser casado oficialmente?
Não, mas apresentar escritura de união estável facilita provar a estabilidade da relação.
7.3 O tempo de espera é maior?
Na prática, varia conforme o perfil escolhido. Casais que aceitam crianças mais velhas costumam avançar mais rápido.
8. Histórias que inspiram
“Quando recebemos o telefonema dizendo que havia duas irmãs de 8 e 11 anos, nosso coração disparou. Hoje, depois de um ano, elas já chamam a gente de ‘minhas mães’ e contam que sonham ser veterinárias.” — Depoimento de Carol e Renata.
Essas narrativas mostram que afeto supera burocracias.
11. Conclusão
A adoção por casais homoafetivos já é uma realidade protegida por lei e respaldada pela jurisprudência. O processo segue as mesmas etapas de qualquer adoção, mas requer, do casal, organização documental e preparo emocional para lidar com eventuais barreiras culturais. Ao buscar informação correta e apoio especializado, o sonho de formar família torna‑se possível e seguro.
9. Recursos úteis
- Cartilha do CNJ sobre adoção – material gratuito que resume legislação.
- Grupos de apoio on‑line – busque no Facebook “Famílias Homoafetivas Adotivas Brasil”.
- Podcast “Mães em Construção” – episódios sobre estágio de convivência.