A união estável sem contrato é cada vez mais comum no Brasil e gera muitas dúvidas, principalmente quando o relacionamento chega ao fim. Como funciona a partilha de bens quando não há contrato escrito? Essa é uma questão que afeta milhares de casais e pode trazer insegurança para quem vive nessa situação.
Nesse post:
Neste artigo, vamos explicar de forma clara e prática como a lei brasileira trata a partilha de bens em união estável sem contrato, quais são as regras aplicáveis, exemplos do dia a dia e cuidados importantes para evitar conflitos no futuro.
O que é união estável?
A união estável é uma forma de constituir família reconhecida pela Constituição Federal (art. 226, § 3º). Ela não exige casamento formalizado, mas sim a convivência pública, contínua e duradoura, estabelecida com o objetivo de constituir família.
Muita gente acredita que é preciso morar junto para caracterizar união estável, mas não é exatamente assim. O que importa é a intenção de vida em comum, que pode ser demonstrada por filhos, conta conjunta, aquisição de bens em conjunto, entre outros fatores.
União estável sem contrato: o que isso significa?
Quando os companheiros não firmam contrato escrito (chamado contrato de convivência), a lei presume que a união estável adota o regime de comunhão parcial de bens.
Isso está previsto no artigo 1.725 do Código Civil:
“Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens.”
Ou seja, se não há contrato dizendo o contrário, a divisão de bens segue as mesmas regras da comunhão parcial aplicada no casamento.
Como funciona a partilha de bens sem contrato?
No regime da comunhão parcial, todos os bens adquiridos onerosamente durante a união pertencem ao casal, ainda que tenham sido registrados em nome de apenas um.
Exemplos práticos:
- Se o casal comprou um carro durante a união, ele será dividido igualmente, mesmo que esteja apenas no nome de um dos companheiros.
- Um apartamento financiado também será partilhado, proporcional ao que foi quitado durante a união.
- Já bens adquiridos antes da união ou recebidos por herança ou doação não entram na partilha.
Portanto, a regra é simples: tudo que foi construído em conjunto deve ser dividido.
Diferença entre união estável e casamento nesse ponto
No aspecto patrimonial, a principal diferença é que no casamento os noivos escolhem o regime de bens antes da celebração, no cartório. Já na união estável, se não houver contrato escrito, a lei automaticamente aplica a comunhão parcial.
Muitos casais só percebem essa questão no momento da separação, o que pode gerar conflitos.
Prova da união estável: o primeiro desafio
Antes de falar em partilha de bens, é necessário provar que a união estável existia. Isso pode ser feito de forma extrajudicial (declaração em cartório) ou judicial (quando há discussão entre as partes).
Documentos que podem comprovar:
- Certidão de nascimento de filhos em comum.
- Contas conjuntas.
- Escrituras de imóveis em nome dos dois.
- Declaração de dependente em imposto de renda ou plano de saúde.
- Testemunhas que confirmem a convivência pública e duradoura.
Sem essa comprovação, a discussão sobre bens pode ser dificultada.
E se o bem estiver só no nome de um?
Esse é um dos pontos que mais gera confusão. Se o bem foi adquirido durante a união, o fato de estar apenas no nome de um não impede a partilha.
Exemplo: João e Maria vivem em união estável sem contrato. Durante a convivência, João comprou um carro no nome dele. Mesmo assim, Maria tem direito a 50% do valor do veículo, pois a aquisição ocorreu durante a união.
E as dívidas? Também são divididas?
Sim. Da mesma forma que os bens adquiridos entram na partilha, as dívidas contraídas em benefício do casal também podem ser divididas.
Exemplo: financiamento de imóvel em que ambos moravam.
Por outro lado, dívidas feitas apenas em nome de um, sem benefício para a família, não precisam ser compartilhadas.
União estável e casa financiada: como fica?
Esse é um dos casos mais comuns. O entendimento predominante é que cada companheiro tem direito à parte do valor quitado durante a união.
Exemplo: se o casal viveu junto por 10 anos e pagou metade das prestações nesse período, o outro terá direito a 50% dessa parte já quitada.
Aqui, vale linkar para o artigo já existente em seu blog:
Casa Financiada no Divórcio: Como Dividir o Imóvel?
E quando há filhos menores?
A existência de filhos não altera diretamente a regra da partilha. Porém, pode influenciar em outros aspectos, como guarda e pensão alimentícia.
Para aprofundar esse tema, você pode direcionar o leitor ao artigo:
Partilha de Bens com Filhos Menores: Existe Alguma Diferença?
O que fazer para evitar conflitos?
Algumas medidas práticas ajudam a trazer mais segurança:
- Formalizar a união estável em cartório.
- Firmar contrato de convivência definindo o regime de bens.
- Guardar comprovantes de compras e investimentos durante a união.
- Buscar orientação jurídica já no início da vida em comum.
Conclusão
A união estável sem contrato segue as regras da comunhão parcial de bens. Isso significa que todos os bens adquiridos onerosamente durante a união serão partilhados igualmente, ainda que estejam em nome de apenas um.
Apesar da simplicidade da regra, cada caso tem suas particularidades. Por isso, o ideal é sempre buscar orientação jurídica para evitar injustiças ou surpresas desagradáveis no futuro.
Checklist – Pontos principais do artigo
- União estável sem contrato aplica automaticamente a comunhão parcial de bens.
- Bens adquiridos durante a união são divididos igualmente.
- Bens anteriores, heranças e doações não entram na partilha.
- Dívidas contraídas em benefício da família também podem ser partilhadas.
- Provar a existência da união estável é essencial para discutir bens.
- Contrato de convivência pode evitar conflitos.
Perguntas Frequentes
Preciso registrar a união estável para ter direito à partilha de bens?
Não é obrigatório, mas o registro facilita a prova em caso de separação.
E se meu companheiro comprou um bem só no nome dele?
Se foi adquirido durante a união, entra na partilha.
Dívidas de cartão de crédito entram na divisão?
Somente se foram feitas em benefício da família.
Posso escolher outro regime de bens na união estável?
Sim, desde que seja feito por contrato escrito.
Quanto tempo preciso viver junto para ter união estável?
Não existe prazo mínimo. O que importa é a intenção de formar família.