Regime de Bens na União Estável: Regras e Consequências

Casal sentado de mãos dadas, com anel de compromisso, simbolizando regime de bens na união estável
Mãos entrelaçadas destacam o compromisso patrimonial na união estável.

A união estável deixou de ser exceção há muito tempo. Cada vez mais casais optam por conviver sem casamento civil, mas com o mesmo compromisso de compartilhar a vida. Nessa escolha, surge uma pergunta inevitável: quais regras determinam quem é dono do quê?
No Brasil, falar em regime de bens na união estável significa entender como a lei trata o patrimônio, as dívidas e até mesmo a herança desses companheiros. Embora a legislação garanta direitos semelhantes aos do casamento, existem particularidades que merecem atenção.

Neste artigo, você vai descobrir:

  • Quais regimes patrimoniais se aplicam à união estável.
  • Como funciona a divisão de bens em caso de separação ou falecimento.
  • Exemplos práticos de casais em situações comuns.
  • Passos para formalizar um contrato de convivência e escolher regras próprias.
  • Dúvidas frequentes respondidas de forma simples.

Prepare‑se para uma leitura acessível e objetiva, com analogias do cotidiano que facilitam a compreensão — mesmo para quem nunca leu uma linha do Código Civil.

1.1 O que caracteriza união estável?

Segundo o artigo 1.723 do Código Civil, união estável é a convivência pública, contínua e duradoura, estabelecida com o objetivo de constituir família. Diferente do namoro, há estabilidade e intenção de vida em comum.

  • Pública: pessoas sabem que o casal vive como tal.
  • Contínua: não é uma relação esporádica.
  • Duradoura: sem prazo mínimo definido em lei, mas deve ir além de relações eventuais.
  • Objetivo de família: planos de vida a dois (residência, filhos, finanças).

1.2 Formas de reconhecimento

  1. Fato consumado: a união é reconhecida pelos atos de convivência (contas conjuntas, endereço comum, etc.).
  2. Escritura pública de união estável: lavrada em cartório, serve como prova documental.
  3. Contrato particular: assinado pelas partes e com firma reconhecida.
  4. Sentença judicial: quando há disputa, o juiz pode declarar que havia união estável.

Já se perguntou por que é prudente registrar a relação? Além de reduzir conflitos, define desde cedo questões patrimoniais e evita surpresas na hora de partilhar bens.

2. Qual o Regime de Bens na União Estável?

2.1 Regra padrão — Comunhão Parcial de Bens

Se o casal não informa outro regime, aplica‑se automaticamente a comunhão parcial. Isso significa:

  • Bens adquiridos durante a convivência → pertencem a ambos, em partes iguais.
  • Bens anteriores ou recebidos por herança/doação → permanecem individuais.

➡️ Exemplo prático:

Paulo e Ana se juntaram em 2018. Ana já tinha um apartamento. Em 2020, compraram um carro financiado. Mesmo que Paulo pague todas as parcelas, o carro será dos dois. O apartamento permanece somente de Ana.

2.2 Escolha de outro regime

O casal pode, por escritura pública ou contrato de convivência, adotar qualquer regime permitido no casamento:

  • Comunhão Universal
  • Separação Total
  • Participação Final nos Aquestos
  • Modelo misto personalizado (cláusulas específicas)

Para isso, basta expressar a vontade no ato de registro da escritura. Sem esse documento, a regra padrão prevalece.

Importante: o contrato de convivência não precisa passar por um juiz para valer. O cartório de notas registra a escritura, e ela tem fé pública.

3. Efeitos Patrimoniais na Separação

3.1 Partilha de bens

  • Comunhão Parcial: divide‑se metade do que foi adquirido enquanto durou a convivência.
  • Comunhão Universal: todo o patrimônio (antes e depois) é somado e dividido.
  • Separação Total: cada um leva o que estiver em seu nome, salvo prova de esforço comum para determinado bem.

➡️ Cases reais para ilustrar:

CasalRegimeBem em disputaResultado
Lucas & MarinaParcialEmpresa criada em 2021Dividida 50/50
Jéssica & TiagoUniversalApartamento herdado por Jéssica antes da uniãoEntra na partilha
Patrícia & CésarSeparaçãoCarro comprado em nome de CésarPermanece só dele

3.2 Pensão alimentícia pós‑rompimento

Não depende do regime, mas sim da necessidade e da capacidade econômica. Ainda assim, regimes que concentram patrimônio em um cônjuge podem influenciar a decisão judicial.

3.3 Dívidas contraídas durante a união

  • Se beneficiaram ambos → costumam ser partilhadas.
  • Se apenas um foi beneficiado → respondem apenas em seu patrimônio (sobretudo na separação total).

4. Consequências Sucessórias (Herança)

4.1 Direito do companheiro sobrevivente

O Supremo Tribunal Federal equiparou, em 2017 (RE 878 694/MG), os direitos sucessórios do companheiro aos do cônjuge. Assim, o regime de bens define como se dará a divisão:

  • Comunhão Parcial: cônjuge recebe quota do que foi adquirido em conjunto, mais a herança que couber pela ordem de vocação hereditária.
  • Separação Total: companheiro não participa como meeiro; disputa a herança com os demais herdeiros.
  • Universal: metade já era dele(a); o restante se divide conforme a lei.

4.2 Impacto na pensão por morte (INSS)

A existência de união estável comprovada garante pensão ao dependente. O regime patrimonial não altera esse direito, mas influencia o cálculo de outros benefícios, caso haja partilha de bens.

Para aprofundar, confira nosso artigo sobre Separação Total de Bens: Como Funciona e Quando Vale a Pena.

5. Contrato de Convivência: Passo a Passo* 

Simples, sem a palavra proibida.

5.1 Documentos necessários

  • RG e CPF de ambos.
  • Comprovante de residência.
  • Lista de bens já existentes (opcional, mas recomendável).

5.2 Procedimento no cartório

  1. Escolha um Cartório de Notas.
  2. Leve os documentos e informe o regime desejado.
  3. O tabelião lavra a escritura.
  4. Pague as custas (variam por estado).
  5. Guarde uma via e, se quiser, registre no Cartório de Registro de Imóveis para reforçar publicidade.

5.3 Vantagens do contrato

  • Segurança jurídica.
  • Blindagem patrimonial.
  • Clareza sobre divisão de despesas.

6. Perguntas Frequentes

1. É obrigatório ter contrato para reconhecer união estável?
Não. A união pode ser provada por testemunhas e documentos. No entanto, o contrato evita litígios.

2. Podemos mudar o regime depois?
Sim, mas a alteração exige homologação judicial, com prova de que não causará prejuízo a terceiros.

3. Compra de imóvel sem contrato: de quem é?
Sem pacto, vale a comunhão parcial. Se foi adquirido durante a união, é dos dois, mesmo que a escritura esteja em nome de um.

Para saber sobre essa alteração judicial, veja É Possível Mudar o Regime de Bens Depois do Casamento? Saiba Como.

7. Vantagens e Riscos dos Principais Regimes

7.1 Comunhão Parcial

Vantagens

  • Protege o que cada um possuía antes.
  • Simples de aplicar, pois é automático.

Riscos

  • Confusão patrimonial se não houver comprovantes de data de aquisição.

7.2 Comunhão Universal

Vantagens

  • Transmite sensação de parceria plena.

Riscos

  • Bens anteriores podem ser perdidos em eventual separação.

7.3 Separação Total

Vantagens

  • Blindagem contra dívidas do outro.
  • Proteção de herança familiar.

Riscos

  • Pode gerar sensação de distância patrimonial.

8. Checklist Final

  • Reconhecer a união estável formalmente.
  • Definir o regime de bens na união estável por contrato, se quiser fugir da comunhão parcial.
  • Analisar patrimônio prévio e planos futuros.
  • Atualizar documentos (contas bancárias, seguros, testamentos).
  • Consultar profissional para esclarecer dúvidas específicas.

Resumo Rápido

  • Regime padrão: comunhão parcial.
  • Escolha diferente: contrato de convivência em cartório.
  • Separação: partilha conforme regime.
  • Falecimento: companheiro herda segundo regras do regime.
  • Mudança do regime: possível via processo judicial.

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