A partilha de bens em relacionamentos informais é um tema que gera dúvidas, insegurança e muitos conflitos na vida real. Quando duas pessoas vivem juntas sem casamento registrado e sem formalizar união estável, o que acontece com os bens comprados durante o relacionamento? Existe direito à partilha? Quais os riscos de deixar tudo de forma informal?
Essas perguntas são muito comuns no dia a dia dos escritórios de advocacia, porque hoje é cada vez mais comum que casais vivam juntos sem oficializar nada. Porém, poucos sabem que essa escolha pode trazer impactos diretos no patrimônio.
Neste artigo, vamos conversar de forma clara e simples sobre os riscos da partilha de bens em relações informais, explicar o que a lei diz, mostrar exemplos práticos e orientar como evitar problemas futuros.
Nesse post:
O que é um relacionamento informal?
Um relacionamento informal é aquele em que o casal vive junto ou mantém uma relação contínua, mas sem nenhum tipo de formalização legal. Não existe contrato, escritura, união estável registrada ou casamento.
Funciona assim:
- Duas pessoas começam a morar juntas.
- Cada uma paga uma parte das contas.
- Compram móveis, eletrodomésticos e, em alguns casos, até um imóvel.
- Vivem como casal, mas não registram nada oficialmente.
À primeira vista pode parecer simples, porém esse tipo de relação pode gerar efeitos jurídicos, mesmo sem intenção do casal.
E é aí que começam os riscos.
Partilha de bens em relacionamentos informais: como funciona?
Você já se perguntou por que tantas pessoas enfrentam conflitos quando o relacionamento termina mesmo sem ter um contrato de união estável?
Porque a lei analisa a realidade dos fatos, e não apenas o papel assinado.
Isso significa que, mesmo sem contrato, um juiz pode entender que existia uma união estável informal e aplicar as regras de partilha.
Mas e quando o juiz entende que não existia união estável? A situação muda completamente.
A diferença entre relacionamento informal e união estável
Para existir união estável, a lei costuma exigir:
- convivência pública
- convivência contínua
- convivência duradoura
- intenção de constituir família
Se esses elementos não estiverem presentes, não há união estável.
E quando não há união estável, não existe regime de bens aplicável. Na prática, isso significa que cada pessoa fica com aquilo que comprovar ter comprado com recursos próprios.
Esse é um dos maiores riscos para quem vive muitos anos em um relacionamento informal e acredita que terá direitos semelhantes aos de uma união estável.
Partilha de Bens em Relacionamentos Informais: o que a lei realmente protege
A lei brasileira não prevê um regime específico para relacionamentos informais. Assim, o direito à partilha depende da comprovação de união estável ou da comprovação de esforço financeiro na aquisição do bem.
Isso faz com que muitas pessoas passem anos acreditando que terão direito a metade do patrimônio, mas acabam ficando sem nada por falta de provas.
Vamos aprofundar.
Quando existe direito à partilha informal?
Somente em duas situações:
1. Quando o casal comprova que existia união estável
Nesse caso, aplica-se a comunhão parcial de bens, o mesmo regime do casamento. Ou seja, tudo o que foi adquirido durante a união deve ser dividido.
Esse tema se relaciona com outro conteúdo do blog sobre união estável sem contrato, que você pode encontrar em:
União Estável sem Contrato: Como Funciona a Partilha de Bens?
2. Quando a pessoa comprova que participou financeiramente da compra do bem
Exemplo prático:
- O casal não tem união estável formalizada.
- Compram uma casa.
- Porém, o imóvel fica no nome de apenas um.
- A outra pessoa paga parte da entrada, custeia reformas ou contribui mensalmente para o financiamento.
Nesse caso é possível ingressar com uma ação para provar o esforço comum e reivindicar parte do bem.
Mas sem provas, não há direito.
Quais são os maiores riscos na partilha de bens em relacionamentos informais?
Aqui está a parte mais delicada do tema. E para facilitar sua compreensão, vou apresentar os riscos de forma direta e com exemplos reais do que acontece todos os dias na prática jurídica.
Risco 1: Dificuldade de comprovar união estável informal
Muitas pessoas vivem juntas por anos, mas não possuem:
- contas conjuntas
- fotos suficientes
- testemunhas
- documentos que indiquem intenção de constituir família
Quando o relacionamento termina, uma das partes simplesmente nega que existia união estável. E sem provas, o juiz não reconhece.
Resultado: a pessoa perde direito à partilha.
Risco 2: Bens no nome de apenas um dos parceiros
Esse é o cenário mais comum.
O casal compra imóvel, carro ou móveis, mas tudo fica apenas no CPF de uma das partes. Na hora da separação, a outra pessoa só terá direito se conseguir provar esforço financeiro.
Imagine a dificuldade de provar isso sem recibos, sem extratos bancários ou sem conversas que indiquem contribuição.
Risco 3: dívidas que recaem sobre apenas um, mesmo sendo do casal
Assim como os bens podem ficar no nome de um só, as dívidas também ficam.
E quando apenas um assume o financiamento ou empréstimo, fica difícil exigir o ressarcimento da outra parte na separação.
Leia também:
Como Fica a Partilha de Dívidas no Divórcio ou na Separação?
Risco 4: investimentos invisíveis que não geram direito de reembolso
Exemplos:
- reforma na casa do parceiro
- construção em terreno alheio
- compra de mobiliário sem nota fiscal
- pagamentos feitos em dinheiro vivo
A pessoa investe, melhora a casa do outro, gasta tempo e recursos, mas não terá como comprovar depois.
Risco 5: falta de segurança mínima para quem se dedica ao lar
Quando um dos parceiros deixa de trabalhar para cuidar da casa, dos filhos ou da rotina da família, perde renda e tempo de contribuição. Em relacionamentos informais isso pode resultar em desamparo total na separação.
Sem união estável reconhecida e sem bens conjuntos, não existe compensação financeira.
Como evitar problemas na partilha quando o relacionamento não é formalizado?
Muitas pessoas não querem casar no papel. Isso é totalmente válido. O problema não é viver informalmente, mas sim viver sem proteção mínima.
Aqui estão as principais formas de evitar conflitos.
1. Formalizar união estável por escritura pública
É rápido, barato e traz segurança imediata. Nela o casal pode definir:
- regime de bens
- responsabilidades financeiras
- direitos e deveres
2. Criar um contrato de convivência
Para casais que não desejam unir patrimônio, esse contrato define com clareza:
- o que é de cada um
- como funcionará a divisão de despesas
- o que acontece em caso de separação
Isso evita discussões e protege ambas as partes.
3. Guardar provas de contribuição financeira
Mesmo em relações informais, vale manter:
- comprovantes de transferências
- notas fiscais
- prints de conversas
- extratos bancários
Essas provas são essenciais em eventual processo.
4. Colocar bens no nome dos dois, quando houver compra conjunta
Simples e eficiente. Se ambos pagam, é justo que ambos sejam proprietários oficialmente.
5. Buscar orientação jurídica preventiva
A maioria dos problemas surge porque as pessoas só procuram ajuda quando já estão sofrendo prejuízos.
Buscar orientação no início do relacionamento ou no momento da aquisição de um bem pode evitar anos de desgaste e disputas judiciais.
Quando vale a pena entrar com processo?
Essa é uma dúvida muito comum. Entrar com processo vale a pena quando:
- há provas de contribuição
- há possibilidade de reconhecer união estável
- existe patrimônio relevante
- há risco de venda dos bens pelo ex parceiro
- existe injustiça evidente a ser reparada
O juiz analisará caso a caso. Mas sem provas, a chance de êxito diminui bastante.
Casos reais que ilustram os riscos
Caso 1: Casa construída em terreno de sogros
A pessoa investe tempo e dinheiro na construção, melhora o imóvel e acredita que terá direito. Na separação, a família do parceiro pede a casa de volta e ela sai sem nada.
Por quê? Porque a construção em terreno de terceiros não gera partilha e é difícil provar o valor investido.
Caso 2: Imóvel financiado no nome de apenas um
O casal paga juntos por anos, mas sem comprovação documental. Na separação, a pessoa que não está no contrato fica em enorme desvantagem.
Caso 3: Relação longa sem formalização
Casal vive junto por 10 anos, mas nunca declarou união estável. Na separação, um dos dois nega a união e dificulta tudo.
A pessoa passa pelo trauma emocional e ainda perde o direito aos bens.
Existe prazo para pedir a partilha em relacionamentos informais?
Sim. O pedido deve ser feito dentro de prazos específicos, que variam de acordo com a natureza da ação. Por isso, não é recomendável deixar o tempo passar.Esse tema se relaciona com outro conteúdo do blog:
Posso Pedir a Partilha Anos Depois do Divórcio?
Perguntas frequentes sobre partilha informal
Existe direito à partilha mesmo sem união estável?
Só quando há provas de contribuição financeira.
Posso pedir metade do imóvel que está no nome do meu ex?
Depende das provas do esforço comum.
Namoro longo gera união estável automaticamente?
Não. É preciso demonstrar intenção de constituir família.
Construir em terreno de terceiros gera direito?
Em regra não. Pode haver indenização se houver provas robustas do investimento.
A união estável precisa ser registrada para valer?
Não, mas o registro evita conflitos e facilita a prova.
Checklist final dos principais pontos
- Relacionamentos informais não têm regime de bens.
- Sem provas, não há direito a partilha.
- União estável informal pode ser reconhecida pelo juiz, dependendo das provas.
- Bens no nome de apenas um representam alto risco.
- Investimentos invisíveis raramente são ressarcidos.
- Contrato de convivência e escritura pública são soluções simples e eficientes.
- Provas documentais definem o sucesso de uma ação.
Conclusão
Relacionamentos informais fazem parte da realidade de milhões de brasileiros. O problema não está em viver dessa forma, mas sim em deixar tudo completamente desprotegido.
A partilha de bens em relacionamentos informais pode gerar grandes perdas patrimoniais, discussões judiciais e frustrações emocionais. Por isso, prevenir é sempre o caminho mais seguro.
Se o casal decide não oficializar o relacionamento, ao menos deve estabelecer regras claras para evitar injustiças no futuro. A falta de proteção pode custar anos de trabalho.
Se esse conteúdo ajudou você, leia também outros artigos relacionados à partilha de bens no blog. Eles complementam o tema e podem esclarecer muitas dúvidas práticas do dia a dia.





